Argentina II - Viagem ao Redor do Mundo do Vinho, 2007

O que segue nos próximos relatos e fatos é exatamente o que inclui em meu blog anterior: http://wineworld.spaces.live.com/
A idéia de trazer para este novo espaço é para manter as informações em um lugar somente.
Não revisei ou alterei nenhum comentário ou idéia, pois creio que cada experiência tem seu momento particular.
Talvez hoje tivesse outras opiniões sobre alguns assuntos, mas, aquelas que aqui reproduzo pertencem a aquele tempo.
Nesta 5ª parte relato minha experiência em Mendoza - Argentina, em março de 2007.

TUDO E UM POUCO MAIS

Chegar a Mendoza e como encontrar um oásis na semidesértica região dos Andes.
Após oito horas atravessando a região das Cordilheiras, onde a magnitude das rochas impressiona pela imponência da natureza ante a pequenez humana, ver o verde que insiste em brotar da terra seca e o azul vivo do Rio Mendoza e uma sensação inesquecível.
Os vinhedos são companhia constante durante o trajeto a cidade, entre eles as vinhas plantadas em vários sistemas diferentes, inclusive o "espaldeira" (destinado a uma produzo em massa de vinhos de qualidade inferior).
A cidade de Mendoza e pequena e tem um ar de cidade do interior, aonde as pessoas vão a praça principal aos domingos em busca da feira de artesanato e artistas locais que se apresentam lá. Porém, tem uma ótima infra-estrutura turística, que explora muito bem a diversidade e riqueza da natureza local.
A produção das vinícolas também e um grande atrativo, tanto para turistas em geral, como para apreciadores de um bom vinho – obviamente.
Mendoza e a principal região produtora de vinho da Argentina e se auto-proclama a "Capital de Vinho do Mundo".
Os negócios contam com muito investimento estrangeiro e estão em alta expansão, mas tudo tem um toque bem Latino.

Cheguei a cidade uma semana após a Festa da Vindima, um acontecimento de grande importância local e, que tem como maior foco de atenção... a rainha da festa – não, não é a uva, mas sim as rainhas escolhidas pelo público que representam as regiões produtoras de vinho de Mendoza.
E um lugar extremamente agradável onde parece fácil ser feliz: boa mesa, bom vinho e a siesta para digerir tamanho prazer - entre 13 e 17 horas a maioria dos estabelecimentos estão fechados.

Mendoza engloba 5 áreas distintas: Norte de Mendoza, Alto do Rio Mendoza, Vale do Uco, Leste de Mendoza e Sul de Mendoza.

Para facilitar meu primeiro contato com a produção local, escolhi comprar um pacote turístico, que o fiz tão logo desembarquei na estação rodoviária. O valor pago foi caro, mas valeu cada centavo da "plata" que gastei.
Saímos no outro dia cedo em um pequeno grupo rumo a Lujan de Cujo, para visitar 2 vinícolas de porte diferente, uma produtora de licores e, encerrar o passeio em uma farta mesa com um tipo "almuerzo", regado por muito vinho - é óbvio.

BODEGAS Y CAVAS DE WEINERT

Além da produção local a vinícola tem vinhedos em outras regiões do pais, sendo esta umas das primeiras empresas a testar a nova área vinícola de Chubutm na imensidão da Patagônia, porem que tem sua produção concentrada nos distritos Mendinhos de Lujan de Cuyo e Maipu.
Nesta vinícola - de propriedade de empreendedor brasileiro, Bernardo Carlos Weinert- o que mais me impressionou o meu primeiro contato com a forma que os vinhos Mendocinos são fermentados, em sua grande maioria: em grandes compartimentos de grossas estruturas a base de concreto protegidos por tintura epóxi, que são ótimos para conservar a temperatura ideal a fermentação.
O cheiro peculiar da uva fermentando impregnava o ar e, após uma breve exposição do maquinário utilizado para recepção e esmagamento da uva nos dirigimos para a bodega onde os vinhos são armazenados e GRANDES cubas de carvalho.
Após, nos dirigimos a sala de degustação para provar vinhos que são feitos para venda em grande quantidade.
Entre os vinhos que experimentamos estava o vinho varietal da uva Sauvingon Blanc, denominado Cosecha de Otono pela sua colheita tardia (late harvest) e, vinhos de corte onde a casta predominante era o Cabernet Sauvignon nos tintos e no também no exemplar rose. O Sauvignon Blanc também marcou presença (muito discreta) no vinho de corte com as uvas Semillon e Cheninc Blanc.
Deixamos o cheiro de vinho fermentando e nos dirigimos para onde o vinho ainda estava no estágio que antecede.



VIÑA EL CERNO

Esta é uma Bodega Familiar, também localizada em Maipu, que nos com um “Bienbebidos” de boas vindas.
A “boutique winery” faz questão de manter a tradição e, a produção em pequenas quantidades, mantendo um alto controle da qualidade. E que resultado... O Cabernet Sauvignon apresentado na degustação era muito equilibrado e tinha uma longa persistência na boca, como se uma boa lembrança de um momento feliz.
Os vinhos destinados a degustação são mantidos em pequenos barricas, das quais são diretamente servidas as tacas.
Antes de sorvermos o primeiro gole, nosso guia - um alemão que abandonou a carreira de administrador após se apaixonar por vinho, para o qual atualmente dedica-se de forma integral (qualquer semelhança é mera coincidência...) - demonstrou técnicas básicas de degustação, que o grupo gostou tanto que continuou praticando em todos os momentos que se fez possível, incluindo um jantar de confraternização na noite do mesmo dia – O vinho aproxima as pessoas.
Antes de nos despedirmos de minha visita favorita no dia, aproveitei a oportunidade para conversar com alguém que tanto tinha em comum comigo. Sempre se tem muito a conversar a respeito e eu particularmente, sempre muito a aprender com isto.



Após uma breve visita a uma produtora de licores, nosso passeio terminou em grande (grandessíssimo, melhor dizendo) estilo, em uma mesa farta de especialidades argentinas em um banquete na Cava de Cano - antiga residência de Don Guillermo Cano, governador de Mendoza, quem em 1936 criou a Festa da Vindima na região - em uma amostra da habilidade "hermana" de servir bem. Deliciamos-nos com os queijos, fiambres, ‘chorizo’ ao molho Malbec e as melhores empanadas que já comi (são como um pastel de forno, mas muito melhor). Um banquete no coração da região vinícola! – Nada mal.

Continuei minha busca por propriedades que pudesse visitar sozinha e com isto ter um contato mais próximo com os envolvidos no processo de fabricação. Porem, isto não foi no dia seguinte. No dia posterior, tomei o rumo dos vinhedos novamente com um grupo de turistas.
Desta vez foi um programa mais curto que abrangia duas vinícolas e uma produtora de azeite – assim com outros lugares de clima parecido, a argentina é uma grande produtora de derivados da oliveira.

BODEGAS LOPEZ

A primeira bodega visitada eh uma das maiores da região, com 1004 hectares de vinhedos próprios localizados na região de Cruz de Piedra y Lulunta em Maipu, Luja de Cuyo e Tupangato de onde a empresa extrai Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Sangiovesse, Pinot Tinto, Chardonnay, Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Semillon.
Seu fundador, Jose Lopez Rivas, chegou em 1886 da Espanha e em 1898 se estabeleceu em Mendoza.
Hoje a bodega possui uma reserva de importante volume de vinho tinto envelhecidos em tonéis de carvalho francês de mais de 5000 litros e para grandes compartimentos de aço inoxidável para os brancos.
Com o calor intenso da região a empresa utiliza sistema de instalação muito conhecida comumente utilizado nas regiões mais quentes do Brasil: um telhado feito de bambu e barro, que mantém uma temperatura media ambiente de 200C e, numa região onde o baixo índice de chuva não é um empecilho para este tipo de instalação.
As instalações impressionam pelas dimensões. Tudo parece ter proporções gigantescas. E o romântico processo de produção do vinho esta a muitos quilômetros de distancia.



CAVAS DE DON ANTURO

Na próxima visita, na Cavas de Don Anturo localizada em Maipu, a paixão e dedicação ao vinho eram facilmente percebidas.
Fomos recebidos pela esposa do proprietário cujo qual da nome a vinícola. É um negocio completamente e, literalmente familiar, de produção esmerada de vinhos que são tratados com uma dedicação e entusiasmo contagiante.
O tempo naquele dia estava nublado e anunciava o que mais se teme na região: uma chuva de granizo. Porem, ao invés de trovoadas o que ouvimos foram disparos altos como de canhões, que são na verdade foguetes lançados em direção às nuvens, cada vez que existe uma ameaça de granizo - o maior problema dos vinhedos locais.
Conhecemos todas as instalações desde as instalações e, enquanto percorríamos a vinícola, o trabalho não parava nesta, pois, nesta época do ano a muito a ser feito
O mosto eh fermentado no mesmo sistema que as outras vinícolas da região: compartimento de concreto e o vinho armazenado utilizando-se da temperatura mais amena do subsolo.
Tamanho envolvimento gera um produto excelente, demonstrado nos vinhos apresentados na degustação. O grande destaque foi o Malbec, que apresentava uma harmonia grande com acentuados aromas de frutas vermelhas, o que foi em minha opinião, o melhor exemplar da variedade, que eh orgulho nacional
Nos despedimos da vinícola e seguimos em direção a cidade, acompanhados de uma chuva tranquila – graças à tecnologia!



O próximo dia, quarta-feira, dediquei ao turismo de aventura – o que é excepcional! Cavalgada aos pés dos Andes, almoço típico e para encerrar descer o rio Mendoza de “rafting” fizeram deste passeio um dia para relembrar.

À noite, visitei uma instituição por indicação do dono do albergue no qual estava hospedada, que ao ver meu interesse por vinho me presenteou com um “ingresso” de visitação a The Wines of Mendoza.
O lugar eh um empreendimento que conta com salas de degustação, com uma ótima seleção de pequenas bodegas – com as quais tem uma grande parceria. Também faz parte do negócio uma área vitivinícola que vende pequenas frações desta área a “amadores” que pagam para receber toda assessoria profissional e terem condições de produzirem seu “próprio vinho”. Demonstrei meu interesse por vinho o que possibilitou uma grande abertura de quem estava me assessorando na degustação, em resultado, obtive ótimas dicas para visitar uma pequena vinícola, onde o próprio dono costuma ser o guia da visita. Era tudo que eu precisa para terminar o dia tão bem quanto começou.

CARMELO PATTI

No meu último dia de visitas em Mendoza, acordei cedo e segui novamente em direção a Lujan de Cujo, distante não mais que 30 km do Centro de Mendoza. Finalmente... descobri que o transporte público leva até a porta de muitas vinícolas.Como havia chegado cedo, aproveitei para caminhar um pouco pelas redondezas antes de iniciar minha visita. O pequeno vilarejo não tem muito a oferecer, além dos vinhos excelentes – o que não verdade eh mais do que suficiente.
Ao chegar a vinícola de propriedade de Carmelo Patti, o calor da acolhida pelo proprietário da uma noção do que encontrar no estabelecimento: muita dedicação e comprometimento em produzir um produto distinto de alta qualidade.
Iniciei minha visita como única visitante, mas logo se juntou ao grupo um casal de Americanos, que tinham como maior interesse gastar os dólares em uma “boutique winery”
Carmelo demonstrou sua personalidade cativante e entusiasmada durante todo o tempo em que percorremos as instalações e sempre acrescentava informações de quem tem experiência de anos entre vinhedos.
Ele é, como muitos já o mencionaram, um personagem. Participa de todos os processos que a produção envolve e se orgulha de seu comprometimento.
O resultado é um vinho ao estilo tradicional, um pouco diferente da tendência local, de ótima qualidade, que já recebeu vários prêmios e não tem pretensão alguma de aumentar a produção, pois manter a qualidade é sua meta principal
Carmelo não possui vinhedos próprios, mas supervisiona todas as vinhas das quais compra as uvas para sua produção. Entre as castas estão Malbec e Cabernet Sauvignon, este último na melhor expressão que o ‘terroir’ de Mendoza pode produzir
Depois do final da “imersão” na vinícola, eu continuei minha conversa de uma maneira bem informal com o senhor Patti, que é não somente um ótimo produtor de vinho, mas também uma criatura encantadora.
Brindou-me com conhecimentos de anos de experiência e a simplicidade de um aprendiz. Sua humildade e carinho em relação ao trabalho me tocaram
Com a boa recordação de minha visita a Carmelo Patti me despedi da região vinícola que me fez sentir privilegiado por compartilhar do lugar, conviver com as pessoas, provar a comida, degustar os vinhos.



¡Salud Mendoza!
Marcia Amaral