Falernia, Chile - Turismo Gourmet Sem Frescura IV


O Chile e sua importante vitivinicultura merecem destaque especial em meu relato do Turismo Gourmet Sem Frescura pelos países andinos. Por isto, minha experiência nele será aqui dividida em mais de uma narrativa e também, por eu ‘falar’ bastante...

Minha entrada no Chile não poderia ter sido mais impactante: pelo Atacama, o mais alto e árido deserto do mundo, no extremo norte do país.
Fiquei apenas alguns dias ali, aclimatando-me a cultura chilena, mas foram inesquecíveis.
O pequeno vilarejo de San Pedro de Atacama é, literalmente, um oásis no deserto e, mais parece um pequeno balneário no meio do nada.



Mas neste inóspito lugar há muito mais que nada. Talvez falte flora e fauna, mas, sobram cores e formas para tornar seu território similar à paisagem lunar ou, a qualquer coisa fora deste planeta.
A hospitalidade também foi algo marcante aí e, em todo o território chileno.

De lá parti à La Serena, que é uma comuna da província de Elqui, localizada na Região de Coquimbo.  Depois de uma viagem de mais de 18 horas e 1.100km percorridos, estava no meu novo destino, localizado a 470 quilômetros ao norte de Santiago
Logo ao chegar a minha acomodação a primeira coisa que fiz foi dividir a mesa com os proprietários; em um café-da-manhã típico chileno: chá, pão com abacate e, uma boa prosa.

Esta cidade na costa do Pacífico fica em uma área lotada durante o verão e bastante frio, com ocorrência de neve, no inverno.
Lá reencontrei o prazer de estar próxima ao mar e, tive a oportunidade de ver um pôr-do-sol lindíssimo - coisa não vista na costa brasileira por motivos cardeais.
Cozimento solar em restaurante no Vale

No dia seguinte fui à busca de um pouco da combinação turismo-cultura-gastronomia-vinho (não necessariamente nesta ordem)* que a região oferece - como sempre faço em minhas andanças e assim o foi no Valle de Elqui, a terra do Pisco no Chile e a primeira Sub-Região da produção vinícola que visitei neste país, nesta viagem.
* A melhor pedida gastronômica nesta região é o restaurante Solar Elqui, em Villaseca na comuna de Vicuña, onde com 189 º C de aquecimento solar, uma panela para 50 pessoas não necessita mais que 70 minutos para preparar delícias locais.

Falemos então de vinho
A videira chegou ao Chile, também pelas mãos dos religiosos que vieram da Espanha, e ali encontrou um paraíso, pela geografia, clima, solo e pela ausência de pragas, como a filoxera - já que devastou muitos vinhedos por outras bandas.

Isolada do mundo, esta estreita faixa de mais de 4000 km localiza-se entre os Andes e o Oceano Pacífico, limitada a norte pelo deserto e ao sul, por uma extensão glacial, com uma altitude variando desde o nível do mar até 6000 metros acima deste e, que desfruta uma grande variedade de climas.
As terras são predestinadas para a vinha, com estações bem distintas e solos que permitem boa drenagem. Poucos lugares no mundo conseguem unir muitas de suas características que sustentam a qualidade de um vinho.

O Que Faz a Diferença?
O clima Mediterrâneo do Chile oferece os verões quentes e secos e os invernos frios e chuvosos, que as videiras adoram. A estação de crescimento se revela em dias bem ensolarados e temperaturas que caem consideravelmente a cada noite para criar a grande amplitude térmica, necessárias para que as uvas produzam sabores de fruta fresca, acidez definida e, no caso das videiras tintas, cor profunda, taninos maduros e altos níveis de antioxidantes.

Não é por acaso que o clima do Chile é tão bom para a produção de vinho. Os vinhedos são bastante influenciados pelo efeito frio do Oceano Pacífico e da Corrente Humboldt que começa nas águas gélidas perto da Antártica e sobe até a costa oeste da América do Sul. Curiosamente, quando o efeito da corrente fria Humboldt atinge a linha costeira do norte, ela produz nuvens e neblina, mas causa poucas ou quase nenhuma precipitação.

A geografia única e as barreiras naturais como o Deserto do Atacama ao norte, as Cordilheiras dos Andes ao leste, os campos de gelo da Patagônia e a Antártica ao sul, e o Oceano Pacífico e as Cordilheiras da Costa ao Oeste, protegem os vinhedos do Chile contra pragas e fornece uma grande variedade de tipos de solo, resultando em um vasto mosaico de ‘terroirs’ que permitem o aumento de uma diversidade dos vinhos finos.

Regiões do Vinho
A vinicultura do Chile está dividida em Regiões, Sub-Regiões e Zonas, como segue:
Região: Coquimbo
Sub-Região: Elqui
Sub-Região: Limarí
Sub-Região: Choapa

Região: Aconcagua
Sub-Região: Aconcagua
Sub-Região: Casablanca
Sub-Região: San Antonio
Zonas: Leyda, Lo Abarca

Região: Central Valley
Sub-Região: Maipo
Sub-Região: Rapel
Zona: Cachapoal
Zona: Colchagua
Sub-Região: Curicó
Sub-Região: Maule

Região: Região Sul
Sub-Região: Itata
Sub-Região: Bío Bío
Sub-Região: Malleco

Vale de Elqui - Denominação de Origem: Coquimbo
Pisco
O que os astrônomos e produtores de vinho têm em comum? Céus limpos e luz pura. Elqui tem ambos. Aqui no limite sul do Deserto do Atacama o sol faz sua mágica nas uvas de dia e as estrelas deslumbram à noite.
A área tem sido conhecida por muito tempo por suas uvas de mesa, papaias e outras frutas, assim como o destilado mais popular no Chile: o Pisco. No entanto, novos vinhedos exploram o terreno da costa até no alto dos Andes – até 2000 metros acima do nível do mar – para o cultivo de uvas de vinho com resultados impressionantes, principalmente com a destacada e de clima frio Syrah.

"... vinhos de classe mundial vai emergir dessas áreas. Se eu tivesse uma reserva financeira eu a investiria amanhã em um vinhedo no Elqui." ~ Tim Atkin
Barril com poema de Gabriela Mistra
Aproveitei meu único dia completo neste vale tão místico para conhecer os arredores de Pisco-Elqui e Vicuña, senda a primeira o principal local de produção do Pisco chilena e a segunda o lugar de nascimento da grande escritora Gabriela Mistral e também, a localidade de Viña Falernia, vinícola que visitei no final daquela tarde.

Os vinhedos de Falernia estão localizados na extremidade do deserto do Atacama, neste misterioso Vale do Rio Elqui.
Localizada numa região de vales transversais, apresenta uma grande diversidade de microclimas, e usufrui desta diversidade geografia em seus distintos campos ao longo do vale, cada um com características específicas.

Seus vinhedos vão desde os 350 metros acima do nível do mar: Tithonus Fundo (distante de 18 km do Oceano Pacífico) onde são cultivadas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Semillon, Syrah e Pinot Noir; atingindo 600 metros nos arredores de Vicuña, onde as cepas cultivadas são: Carménère, Cabernet Sauvignon e Syrah; até atingir 1700 e 2070 metros em Huanta, onde o clima é muito seco, com variações de temperatura significativas entre o dia e a noite. As variedades ali cultivadas são aqui Pedro Ximenez, Syrah e Pinot Noir.

Viña Falernia
Sua nova e moderna vinícola está completamente equipada com a última geração de tecnologia. Adegas subterrâneas para o envelhecimento em barricas de carvalho (francês e americano) completam o conjunto, juntamente com a mais recente unidade de engarrafamento da planta. Sauvignon Blanc, Syrah e Carménère são todos de excelente qualidade reconhecida internacionalmente.

Viña Falernia foi fundada em 1997 por Aldo Olivier Gramola e seu primo, Giorgio Flessati, um enólogo 
experiente da região de Trentino no Norte da Itália.
Laboratório Enológico
Giogio Flessati é um dos grandes responsáveis por enxergar o potencial desta região e colocá-la no mapa da viticultura internacional.
Os primeiros vinhos desta vinícola a impressionarem internacionalmente foram da cepa Syrah, porém outras variedades vêm chamando a atenção pela qualidade e equilíbrio que os produtos alcançam.
Nesta visita tive a oportunidade de provar vinhos que ainda estavam sendo trabalhados nos tonéis de aço inox e, que apresentavam uma qualidade excepcional, ainda a muito ser lapidada.

Eu estava ansiosa por degustar o Syrah da vinícola, mas, para minha surpresa, os que mais me impressionaram foram o Sauvignon Blanc e o Carménère. O primeiro era muito fresco e aromático. Não tão elegante como alguns outros da região de Casa Blanca, no mesmo país. Porém, com um ‘que’ de Nova Zelândia que me agradou imensamente.
Degustar o Carménère de Falernia foi uma reconciliação com a uva emblemática do país, a qual, devo admitir, que não apreciava muito até então. Mas, assim como o apresentado por Falernia, o Chile provou que vem trabalhando incansavelmente para melhorar a qualidade deste símbolo nacional e, reduzir alguns fatores naturais que desagradavam paladares; incluindo o meu; com por exemplo, o seu sabor amargo com notas vegetais pronunciadas, associadas ao pimentão verde.

Veja o que Wikipedea menciona a respeito da cepa, sua origem e história no Chile:
“Carménère é uma casta de uva, originalmente da região do Médoc (Bordeaux, França), onde era usada para a produção de vinhos tintos intensos e ocasionalmente para mistura de modo semelhante à casta Petit Verdot. Os cachos dessa cepa possuem frutos que variam entre os tamanhos pequeno e médio e cores que tendem ao preto azulado. Na Europa, as videiras desta variedade foram dizimadas por uma praga e substituídas por outras castas mais resistentes. Atualmente, é exclusiva do Chile. 
A casta Carménère foi uma das mais amplamente cultivadas em inícios do século XIX no Médoc e Graves. Na década de 1860 as videiras européias desta variedade foram dizimadas pela filoxera, um inseto diminuto que afeta as folhas e a raiz sugando a seiva das plantas, e substituídas por outras castas menos sensíveis, como a Merlot. 
Julgada extinta, ela foi redescoberta em 1994 no Chile por um ampelógrafo francês, chamado Jean-Michel Boursiquot, que notou que algumas cepas de Merlot demoravam a maturar. Os resultados de estudos realizados concluíram que se tratava na realidade da antiga variedade de Bordeaux Carménère, cultivada inadvertidamente, misturada com pés de Merlot. 


Levada por engano aos vales vinícolas chilenos, a Carménère se adaptou ao clima agradável e aos solos férteis obtendo êxito ao ponto de ser considerada uma das uvas mais importantes do Chile por sua qualidade e sabor excepcional. É no Vale do Colchagua onde está seu maior cultivo, que se mantém restrito ao Chile devido à fragilidade da cepa, que sobrevive graças ao bom clima e solo, mas sobretudo, ao isolamento físico e geográfico criado por barreiras naturais...”

Carménère é, pode-se dizer, uma casta chilena, de origem francesa e, com um caminho de sucesso pela frente, graças ao empenho incansável pela melhor utilização dos recursos naturais, tecnologia aplicada e estudo na área – tal como “hacer las cosas a la chilena”.

Segui minha viagem rumo à capital, para reencontrar-me com uma das cidades da nossa América do Sul menos latinas que conheço: Santiago, ¿cachai?*
* ¿cachai? em bom chileno, significa entendes?, do verbo ‘cachar’ uma provável chilenização do verbo em inglês ‘to catch’.

Até breve com a continuação do relato de meu Turismo Gourmet Sem Frescura, ainda no Chile.
Saúde!









Fontes de Consulta:
Todas as fotos são de minha autoria e, fazem parte do álbum:
https://picasaweb.google.com/marcia.br.amaral/Chile?authuser=0&feat=directlink

O texto tem como base a pesquisa nos sites abaixo mencionados e, minha experiência pessoal:
http://www.falernia.com/index_esp.html