Cousiño Macul, Chile - Turismo Gourmet Sem Frescura V

Tenho postergado muito a continuação de meu relato de minha viagem denominada Turismo Gourmet Sem Frescura realizada no final de 2010 e, continuamente me pergunto o que me impede em prosseguir.
Talvez o fim, que se aproxima, com o relato da experiência no Chile.
Sempre tive problemas em terminar aventuras. Sou ótima em começá-las, mas colocar um ponto final, não é o meu forte.

Eis aqui então, a continuação da minha viagem, ainda no Chile. Desta vez, em Santiago, lugar querido, hospitaleiro, com interessante gastronomia, de seres marinhos prá lá de estranhos e peculiares.

Centolla

Não era aquela a minha primeira vez na capital do país, mas sempre há muito a descobrir por ali e alguns lugares obrigatórios de revisitar. Um deles é o Mercado Central, um paraíso gastronômico.
Decidida a experimentar coisas únicas e raras, no meu primeiro almoço na cidade deixei-me levar pela grandeza da centolla*.
Nota: *A Centolla (caranguejo) da Patagônia (Lithodes Santolla) é um crustáceo que habita o fundo do mar nas águas frias do sul da América do Sul.
Habita as águas costeiras do sudeste do Oceano Pacífico, nas águas do Chile especialmente de Valdivia ao Cabo de Hornos.

Outro dia de minha estada na cidade regressei ao Mercado para algo ainda mais exótico e, com nome não menos estranho: Picoroco*.

Picoroco

Nota: *O Austromegabalanus psittacus, ou picoroco, é um crustáceo marinho comestível, que habita as costas do Chile.
Apesar de ser semelhante a um molusco, por possuir e estar protegido por uma estrutura similar a uma espécie de concha, é, na realidade, um crustáceo da subclasse Cirripedia.
A estrutura que o protege consiste em placas que, na fase adulta, formam uma estrutura cilíndrica. Na fase larval, vive livre, e quando adulto, vive aderido as rochas, onde se alimenta de partículas de alimento através da filtração da água.







Mas bem mais que uma gourmand, eu sou enófila e, aos prazeres do vinho fui ao encontro.

Minha primeira visita nesta etapa foi à uma tradicional vinícola bem próxima do centro de Santiago (pouco mais de 16km de distância), a qual se alcança em um curto translado de metro combinado com uma caminhada: Cousiño Macul, no Vale de Maipo.

Fundada em 1856, vinha Cousiño Macul é única entre as vinícola fundadas no século XIX, que ainda está nas mãos da família fundadora.

O nome da empresa é derivado do sobrenome do fundador (Matias Cousiño) e área onde ele desenvolveu a primeira propriedade, no Vale do Maipo: Macul.

Desde 1564 foram cultivadas vinhas na área de Macul, quando o rei da Espanha transferiu a propriedade de Macul para o conquistador espanhol Juan Jufré.
Visitar Cousiño Macul é uma excelente oportununidade de conhecer a história da produção de vinhos no Chile, pelos fatos relatados, a tradição familiar preservada e, os artefatos vitivinicolas antiguíssimos que estão em exposição e fazem parte da história vivida e contatada.

A Cousiño Macul é atualmente gerenciada pela sexta geração dos descendentes diretos de seu fundador, o qual era um excelente homem de negócios e visionários. Com um fortuna acumulada em distintos ramos de negócios ele iniciou a produção do vinho como uma espécio de 'hobby', sem pretenções de converter em seu principal negócio, o que lhe deu uma certa liberdade de estilo. Estilo este que ainda hoje é priorizado nos produtos, classificados como 'menos comerciais' e 'mais elegantes' que seus conterrâneos. A vinícola nadou contra a maré e, ainda segue um caminho diferente da maioria das vinícolas que não parecem ter o vinho no sangue.

O destaque dos produtos degustados foi o 'Antiguas Reservas Cabernet Sauvignon 2008', um vinho bem mais europeu que chileno (sem injuriar nenhuma das partes ), com uma sutileza e elegância que nem sempre se encontra em vinhos no estilo "Novo Mundo".

De cor profunda, com um estágio de 12 meses por barrica de carvalho francês muito bem integrado ao vinho e as características da própria fruta, pouco pronunciado, mostra gentilmente seus taninos.
Fácil de beber, com boa acidez e características bem marcantes da variedade como pimenta, eucalipto e frutos do bosque.

Para aqueles que gostam de beber pontuação, o Robert Parker o avaliou em 91, sinal de mudanças dos tempos onde a elegância também é valorizada.

Bem, Chile não parou por ai e, logo logo (se Baco ajudar) estarei relatando a continuidade do Turismo Gourmet Sem Frescura.


Saúde!

Fonte de Consulta:

http://es.wikipedia.org/wiki/Lithodes_santolla
http://pt.wikipedia.org/wiki/Austromegabalanus_psittacus