Montes, Chile - Turismo Gourmet Sem Frescura VII






Minha segunda visita no Vale de Colchagua, ainda na prestigiada região de Apalta, foi na vinícola mais alternativa que conheço: Viña Montes.
Além do que para alguns pode parecer uma ousadia na viticultura, como a cultura biodinâmica por exemplo, a empresa vai além, muito além.
Feng Shui, anjos e música são crenças na elaboração, em busca de um melhor produto; nesta vinícola de reputação por seus vinhos de grande qualidade.


O logotipo da empresa demonstra o zelo pelos anjos e, é usado com o selo de qualidade declarando "Do Chile com orgulho". Isto reflete a crença do sócio fundador Douglas Murray; falecido no ano de 2010; e a fé dele no apoio permanente e contínuo dos anjos.

Esta convicção foi inclusive tema de livro: "No Caminho dos Anjos", que conta a história de Viña Montes, escrito pelo jornalista britânico Jamie Ross e, com prefácio de Hugh Johnson, o qual ganhou o prêmio de "Best Wine History Book" (Melhor Livro de História do Vinho) no "Gourmand World Book Awards 2006".

Não sei se devido a isto, mas me senti nas nuvens nesta visita, em uma experiência deslumbrante de tomar meu tempo contemplando aos vinhedos e montanhas, enquanto tomava meu vinho.

Como cheguei antes do meu horário previsto, caminhei calmamente até o café da vinícola para o almoço daquele dia.
No caminho, os trabalhadores dos vinhedos também se dirigiam ao descanso, no sol escaldante do meio dia.


O prédio da vinícola havia sofrido abalos com o terremoto de 27 de fevereiro de 2010 e, que deixou parte do Chile devastado e o mundo chocado.



Em volta do café há dois pequenos lagos artificiais que, na ocasião, estavam secos para manutenção. 
Assim como vários outros locais da vinícola, ainda estavam em restauração.




Em uma mesa ao ar livre escolhi um sanduíche de ciabatta dos deuses, ou anjos, e o Montes Cherub* 2010, um vinho rosado, de cor intensa e presença marcante de morangos em seu aroma e boca.
O delicioso rosado é elaborado com 100% de uvas Syrah provenientes dos vinhedos de Marchigüe, região ao norte de Apalta e mais perto do Oceano Pacifico.
*Cherub = Querubim, é uma criatura sobrenatural, espiritual, mencionada várias vezes no Tanach (ou o Antigo Testamento), em livros apócrifos e em muitos escritos judaicos.
Em uma das interpretações, os querubins seriam anjos em segundo lugar na hierarquia celeste, logo abaixo dos Serafins.

Terminado meu momento de almoço e contemplação iniciei a visita propriamente dita, saindo do café para cair diretamente na sala de barricas.
A sala de barricas tampouco é algo convencional, nela os vinhos repousam ao som de música, mais precisamente cantos gregorianos.
A vinícola a muito tempo emprega a música no processo de elaboração do vinho por acreditar que há uma boa interferência da primeira no último.

É sabido que a música influencia na percepção do que consumimos enquanto a ouvimos e, já foi cientificamente comprovado, inclusive por um estudo encomendado pela vinícola à Heriot Watt University (Edimburgo, Escócia). Porém, o sócio e enólogo, Aurelio Montes, vai além e aplica o uso da música na guarda dos vinhos por acreditar que melhora o produto também.



Percorremos as dependências da empresa e ao final chegamos a sala de degustação.
Montes foi pioneira na cena do vinho chileno, criando vinhos super-premium, incluindo a gama  Montes Alpha, e ícones como Montes Alpha M e Montes Folly.
Montes também abriu o caminho para a qualidade plantando nas encostas das montanhas íngremes.

O primeiro vinho degustado representa a busca da vinícola pela qualidade, que a fez esperar muito tempo para produzir um vinho da variedade Carménère e, valeu a pena esperar. Surgiu então o Purple Angel.
Eu degustei o Purple Angel 2007, elaborado com 92%  Carménère  e 8% Petit Verdot, que teve estágio de 18 meses em barris novos de carvalho franceses e americanos.
Como era de se esperar, a madeira estava bastante presente no vinho, porém muito equilibrada a todo o restante. Ainda assim, acho que um pouco mais de anos de garrafa lhe fariam bem.

O vinho que seguiu estava excelente justo naquele momento e, outros tantos anos (20 são os sugeridos pela vinícola) ainda lhe cairiam bem: Montes Alpha "M".
No melhor terroir da propriedade crescem as uvas para o Montes Alpha "M", onde há uma orientação sul-oeste que permite ter exatamente o nível certo de horas de luz solar e a brisa do mar fornece um efeito de refrigeração, ideal para o amadurecimento lento das uvas. Soma-se a isso, os solos pobres, com uma pequena composição orgânica, irrigação por gotejamento e, é claro, a ajuda dos anjos.


A prova foi do Montes Alpha "M" 2007, que tem nesta safra é um corte de Cabernet Sauvignon (80%), Cabernet Franc (10%),  Merlot (5%) e Petit Verdot (5%). Eu, como fã assumida da Petit Verdot, sempre tenho uma boa impressão quando a uva está presente. Porém, as impressões do vinho só melhoraram após a primeira.
Ele é um vinho potente; de cor vermelha escura e intensa; com bom nível de taninos suaves e arredondados. Há uma harmonia agradável da fruta e o carvalho francês, que nele é empregado. Na boca também é equilibrado, encorpado e com excelente estrutura.

Depois desta tarde de experiências heterodoxas, despedi-me dos anjos e segui em retorno à cidade de Santa Cruz, para descansar porque o "turismo gourmet sem frescura" ainda não acabara no Vale de Colchagua.

Até o próximo relato,
Saúde!









Fontes de Consulta: 
http://www.napaangel.com/spirit.html
http://www.monteswines.com/
http://www.decanter.com/news/wine-news/485822/montes-music-makes-wine-reach-parts-it-otherwise-couldn-t-reach
http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/7400109.stm

http://www.wineanorak.com/musicandwine.pdf