Almaviva, Chile - Turismo Gourmet Sem Frescura XI

Minha despedida com a última visita do Turismo Gourmet Sem Frescura terminou com toque de opera. A isto não me refiro ao drama que foi acessar a vinícola em questão e um estresse inicial que foi dissipado com a simpatia dos que ali me receberam.
Me refiro a inspiração do nome de uma das mais prestigiadas vinícolas do Chile: Almaviva; produtora de um dos vinhos sul-americanos mais caros no nosso mercado; inspirado em um dos personagens principais da opera de Mozart: As Bodas de Fígaro, o qual se chama Conde de Almaviva.

Almaviva surgiu da união de interesses em produzir excepcionais vinhos franco-chilenos, com a participação de Baron Philippe de Rothschild S.A.; proprietária do Château Mouton Rothschild e da Opus One, esta em parceira com Robert Mondavi; e Viña Concha y Toro S.A.; vinícola com sede e origem no Chile e, uma das maiores do mundo, a qual sempre teve um olhar para o exterior, sendo esta a primeira vinícola no mundo a listar na Bolsa de Nova York em 1994 e, que dentre suas propriedades consta a vinícola Trivento na Argentina.

Cordilheira dos Andes faz fundo à vinícola.
Mas deixando este mundo corporativo de lado e partindo para o que interessa aqui, vamos à visita!
Vinhedos vistos do mezanino da vinícola

Pois ali estava eu, em Puente Alto (Vale de Maipo), não muito longe do centro de Santiago na verdade. O local é praticamente dentro da capital.












A região metropolitana de Santiago é uma das melhores para a produção de vitis vinífera no país, em especial a Cabernet Sauvignon. Especulasse inclusive que, se ela não estivesse dominada pela urbanização, seria o melhor terroir do Chile.
Estátua de Baco, sobrevivente de terremotos.







Lenda urbana ou não, é certo que a região produz vinhos fantásticos, entre eles, os da Almaviva.
Ela tem como primeiro vinho aquele que leva o mesmo nome da vinícola e como segundo o EPU, que a pouco tempo começou a ser exportado para o Brasil.


Percorri as instalações da vinícola que são como o vinho, um primor.


Utiliza-se a ajuda da gravidade para todo o processo de elaboração, o qual é iniciado no mezanino no alto da edificação. Onde, por todos os lados, há grande investimento, tecnologia e técnicas inovadoras aplicadas nas diversas fases da elaboração do vinho.

Entre elas destaco a medição de umidade do solo, por condutividade elétrica, para identificar-se onde o solo retém mais água, evitando assim a desidratação ou excesso de água.
Também me pareceu muito interessante a mesa de seleção das uvas onde os grãos secos, muito mais leves que os demais, são removidos com a ajuda de um imenso ventilador.

Maquinário moderno e inteligente.

Sala de Vinificação, onde acontecem a maceração e a fermentação alcoólica.


Carvalho francês - évidemment


Depois de estágio nos tanques de aço inox, os vinhos são transferidos para as barricas de carvalho francês, novas, onde ficarão por um período de aproximadamente 18 meses.





Sala de Barricas





As salas de barricas são interessantes por essência, mas, a da Almaviva - batizada Grand Chai - na minha opinião é ainda mais fascinante.








O impressionante design arquitetónico da Grand Chai cria uma perspectiva e sensação de profundidade, porque a vista se estende até os vinhedos: o lugar de nascimento de todos os vinhos.
A parede de fundo da sala pode ser levantada, por um comando de controle remoto, e podemos encher os olhos com a linda visão dos vinhedos.
Esta simbologia que me fascinou: o vinho nasce no vinhedo e ele é a essência de tudo.
Foto disto?! Não... há que se viver a experiência.



Grand Chai, sala de barricas.
Almaviva 2008
O resultado dos trabalhos da vinícola é definido por eles próprios como: o melhor de duas culturas, onde a Chile contribui com a terra, o clima, os vinhedos e a França com os conhecimentos de vinificação e tradição.



E o resultado disto tudo é o vinho.

O vinho principal, Almaviva, tem distintos cortes, de acordo com o desempenho das safras. Porém, sempre com a predominância do Cabernet Sauvingon.
Ele chega em nosso mercado com um preço elevado e, fora dos meus padrões de consumo. No entanto, às vezes devemos romper com os padrões.

O que eu degustei na visita foi o Almaviva 2008.
Uma safra, que segunda a empresa, foi marcada por condições climáticas atípicas.
Destacam que a colheita começou com um inverno excepcionalmente frio e seco, um dos mais frios dos últimos 40 anos, e também um dos mais secos. Em decorrência, a floração começou mais tarde.
No verão, foram consideravelmente maiores que as médias históricas, com flutuações extremas durante o dia.
Porém, temperaturas mais baixas durante o mês de abril atrasaram o processo de amadurecimento a criação de um colheita tardia, lenta e prolongada.
O resultado foi o baixo rendimento das videiras com frutos de excelente qualidade e pureza, equilíbrio e caráter excepcionais.
Sorte minha!


O vinho demorou um pouco para abrir (todavia es un niño!), o que me deu tempo para admirar as peças de coleção histórica da cultura nativa chilena que estão expostas na sala - quase um museu.
Quando me encontrei novamente com a taça, ali está um vinho de um elegância e equilíbrio incríveis para os seus 14,5% de alchool. O estágio longo na madeira mostrava-se bem integrado com as características das castas, das quais o maior destaque era do Cabernet Sauvignon (66%), mas o Carménère (26%) e Cabernet Franc (8%) marcavam presença e davam o 'arredondamento' necessário.
Uma acidez marcante, fez-me salivar e pensar em comida. Mas, somente a companhia do Conde, digo Almaviva, já me fazia bem.

Com este vinho, que inspirando em um prestigiado conde da ficção, uniu o empenho de parte da nobreza vitivinícola de dois incríveis países, despedi-me do Turismo Goumet Sem Frescura - viagem temática na qual percorri países andinos (EquadorPeru, Bolívia, Chile) em busca de experiências enogastronomicas e culturais.
E como sempre acontece em uma viagem, desta eu também não voltei a mesma.


¡Gracias Pachamama!