Precisamos Falar Sobre Defeitos?

Uma das grandes diferenças de comportamento que eu percebo entre aqueles que não se envolvem no processo de produção de vinhos para aqueles justamente elaboram estes, é a forma como o analisam.
O enófilo, por exemplo, tem uma relação mais romântica e subjetiva com o vinho. Já o enólogo o analisa sempre de uma forma muito mais técnica.

Como amostra desta abordagem vou falar sobre os defeitos do vinho. Pois percebê-los em um vinho, além do conhecimento e treino para que isto seja possível, é uma busca pela perfeição.
Em geral, quem elabora um vinho, além de proporcionar prazer da satisfação de quem vai bebe-lo, almeja um produto perfeito, sem defeitos.
Quem consome vinho, muitas vezes, nem percebe tais defeitos. Outras vezes, se estes são falhas, ou desvios aromáticos que trazem alguma característica agradável ao paladar de quem o consome, acabam sendo parte de uma boa experiência.

Claro que como em tudo, há exceções de ambos os lados e em vários casos.

Mas, nós realmente precisamos falar sobre defeitos?
Bem, talvez nem tanto, se a ideia é apenas desfrutar de um vinho saudável, basta uma boa prática olfativa para devolver um vinho defeituoso ao garçom.
Mas se realmente queremos aprender sobre vinho, faz parte conhecer seu lado imperfeito e a possível origem dos problemas.

Trago aqui algumas explicações de um texto técnico que resume bem os tipo de falhas e defeitos:
Defeitos de estilos
Em função do grau de oxido-redução do vinho, dependendo da quantidade que exista do composto, diferenciamos entre maturação, redução e vegetal. O vegetal pode integrar o estilo do vinho, mas um excesso de compostos pirázicos seria um defeito.

Defeitos com tolerância
São compostos que podem participar na complexidade do vinho e, dependendo do umbral de percepção do provador, a avaliação poderá ser positiva ou negativa. Entre estes, podemos mencionar o ácido acético, o qual pode contribuir para a complexidade do vinho, e também o Brett que em pequenas proporções agrada a muitos.

Defeitos sem tolerância
São todos aqueles compostos que geram repúdio e não admitem tolerância alguma, já que são compostos que não pertencem à construção do vinho. Estes compostos podem ser contaminantes ou inibidores dos componentes do vinho, tal como o TCA ou o mofo.

Descrevo abaixo alguns exemplos destas incidências:

TCA / TBA
Descrição – Os Tri e os Tetracloroanisois (TCA) e o Tribromoanisol (TBA),  
Também identificado como "defeito da rolha" ou bouchonée têm um aromas bem característicos a cheiro de rolha, bolor, mofo, umidade, papelão molhado.
Causa – Tem origem no ataque de fungos existentes na rolha de cortiça natural aos derivados do cloro usado na lavagem e branqueamento de rolhas. O TBA tem origem no ataque de fungos aos derivados de bromo usado na desinfecção de madeiras por vezes utilizadas na fabricação de adegas e caves.
São um dos principais defeitos do vinho engarrafado ou não.

Brettanomyces
Descrição – Popularmente chamada de "Brett", esta levedura produz aromas de couro, suor e bacon. No entanto, quando levemente presente, sem encobrir o caráter da fruta, pode adicionar complexidade ao fermentado. Podemos observar isto em muitos dos principais produtores do Rhône.
Causa – A "Brett" encontra predisposição especial para agir em vinhos com alto pH (baixa acidez) e teor alcoólico. Sendo assim, raramente a encontramos em vinhos brancos. Ainda não existe uma forma de corrigir este problema. Pode-se atuar apenas preventivamente durante a vinificação com a correta aplicação de sulfitos.

Oxidação
Oxidação é o processo em que o oxigênio atua como catalisador de uma série de reações indesejáveis e irreversíveis no vinho. Neste caso, como na "Brett", uma leve presença pode ser interpretada como qualidade e até tipicidade, como é o caso de alguns ícones da Espanha. De forma geral, a oxidação pode ser notada visualmente por dar aos vinhos brancos tonalidades acastanhadas e douradas muito intensas e, aos tintos, tons alaranjados e âmbar.
Uma série de substâncias podem ser indicativas de oxidação:

Acetaldeído
Descrição – Em pequenas quantidades, pode contribuir para a complexidade do vinho, como no caso do Jerez. Em maior presença, caracteriza-se pelo forte odor de amêndoa, além da ausência de acidez e maciez no vinho.
Causa – Oxidação do álcool do vinho devido a trasfegas ou engarrafamentos violentos, ou armazenagem em cubas não completamente cheias. Problema comum em vinhos de regiões quentes. Os tintos, por conter maior teor de polifenóis, são menos suscetíveis a esta doença.

Acidez Volátil/Acetato de Etilo
Descrição – Aroma de vinagre no caso de formação de ácido acético. Aroma de cola, acetona, solvente do verniz para unhas, no caso da formação de acetato de etilo, que se forma da reação do álcool com o ácido acético.
Causa – Ambos surgem pela contaminação do vinho com bactérias acéticas que degradam o álcool produzindo ácido acético e gás carbônico. A formação de um elemento não é proporcional à do outro. O segundo deprecia mais o vinho que o primeiro.

Cozido
Descrição – vinho com tons amarronzados e aroma que remete ao caramelo.
Causa – esta oxidação se desenvolve quando o vinho é exposto a altas temperaturas por um período mais ou menos longo de tempo. 

Redução
Descrição - É exatamente o contrário da oxidação, pois é a falta de oxigênio. No seu extremo, o caráter redutivo pode assumir a forma de aromas desagradáveis como ovos podres ou repolho cozido.
Causas: Compostos produzidos em maior medida por má gestão, tratamentos tardios na vinha chegando a uva com resíduos, mostos mal clarificados, excesso de sulfuroso nos depósitos, pH elevado, má escolha da levedura, excesso de biomassa em fermentação, contato prolongado com as borras durante o amadurecimento, temperaturas elevadas, má gestão da nutrição, má gestão do oxigênio.

Volta
Descrição – cheiro desagradável, turva, perde cor e acidez fixa, ganha gás e acidez volátil.
Causa – fermentação do ácido tartárico por bactérias lácticas originando a ácidos láctico e acético e gás carbônico. É a doença dos vinhos pouco ácidos, com pH elevados. Este tipo de bactérias lácticas são bem sensíveis ao sulfuroso.


Para ilustrar um pouco estes aromas da imperfeição compartilho aqui duas ótimas tabelas com o nome das substâncias químicas de acordo com aroma, e mencionando seu umbral de percepção. 


Então fica a sugestão, desfrute o vinho, viva a experiência e estudo o conteúdo, para que quando percebas algum defeito no vinho saiba bem mais que virar o nariz para longe deste.

Saúde!

Fonte de Consulta:
https://www.az3oeno.pt/processos/tintos/vinho-limpo-vinho-sao/

https://pt.slideshare.net/AZ3Oeno/cata-defectos-az3-2011
http://revistaadega.uol.com.br/artigo/defeitos-do-vinho_6468.html#ixzz51zyvDX4d
http://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-defeitos-e-os-defeitos-do-vinho_436.html